quarta-feira, 3 de junho de 2009

Momentos de calafrio

Esse vento, novamente em minhas costas, faz-me lembrar do que eu fui um dia. Momentos vários passam por instantes em minha mente. Coisas que não gosto de lembrar se exibem com uma ousadia tamanha me afrontando e afirmando: eu estou aqui, você realmente viveu isto.

Coisas

Chega de falar de outrem que já esqueço e assumo, sei que está em mim, mas abstraio o todo você inconveniente e incompleto. Eu quero falar de outras coisas, coisas mesmo, coisas inumanas, talvez inanimadas.

Esta cadeira por exemplo. Quero falar dela. Sento em cima, encosto minhas costas, e permaneço ali por um tempo não cronometrado. Jogado e esquecido, meu corpo simplesmente desaba naquela coisa. Coisa inanimada.

Aquela Mulher


Desde o primeiro momento em que me foi feita aquela proposta, a de observar esta mulher ou menina, fiquei um pouco apreensiva. Um dia seria pouco para tentar entender seus olhares, suspiros, tons de voz, trejeitos. Mas, mesmo assim, aventurei-me neste desafio e observei e observei e observei.

Ao acordar, aquela mulher parece-me sonolenta por uns bons minutos. A voz mais grave denuncia esta condição. Vai ao banheiro, volta ao quarto e arruma sua cama. Nesse frio de inverno, ela se cobre com dois edredons. Dá bom dia à mãe e ao pai, continua sonolenta.

Suspira. Vejo um semblante de “que horas são?”, “o que farei hoje?”, “tenho que me disciplinar”, “quais são meus planos?”. Um leve desespero tenta dominar sua mente, mas uma alegria retumbante inunda seu corpo que dança ao som de músicas imaginárias.

Ela corre pela casa aos pulos! Pensa em qual tipo de música quer ouvir. Pelo que vi, ela adora seus vinis, antigos, herdados ou pertencentes aos pais; alguns seus, certamente. Percebo que alguns dos seus preferidos ficam em seu quarto, abaixo do som, do aparelho de som. Decidida, escolhe uma música.

Ela canta, ela dança, ela fecha os olhos, ela sonha. Seus sonhos parecem estar estampados em seu quarto; seus sonhos refletidos em seus pertences, em suas ações, em sua roupa, em sua casa. Talvez a música seja sua parceira neste processo.

Agora, ela chama sua mãe, corre pela casa ao seu encontro. Elas conversam sobre tantas coisas que não consigo enumerá-las aqui. Com seu pai, ela conversa um pouco, porque, pelo que vejo, adora assistir televisão.

Pronto. Já é hora do almoço, ao menos para ela. Às onze, ela já está trabalhando, por isso tem que almoçar mais cedo. Sai às pressas para o trabalho e caminha por ruas menos movimentadas para chegar a tempo.

Chegando lá, ela sorri para seus colegas de trabalho dizendo bom dia. Alguns retribuem. Brinca com alguns poucos. Eles dão risadas. Começa, então, a seqüência de atendimentos, um atrás do outro. Ela recebe todos de uma forma gentil e alegre, buscando resolver os possíveis problemas que surgem.

Ela me parece satisfeita com o seu trabalho, mas não realizada. Várias vezes durante o dia, ela fica com o olhar distante, e faz anotações em um pedaço de papel. Estas devem ser importantes pois são ocultadas das pessoas que passam por perto.

Ao fim do dia, ela caminha para casa, novamente às pressas, toma um rápido banho, come alguma coisa e vai à faculdade. Neste lugar, ela sente que está no caminho que deve estar, percebe que tem muito o que aprender e muito o que caminhar.